Vaticano - Papa Francisco (Blog N. 347 do Painel do Coronel Paim)- Parceria: Jornal O Porta-Voz
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
América Latina realiza cúpula em Cuba sem convidar os EUA
Por Daniel Trotta HAVANA, 27 Jan (Reuters) - Governantes da América Latina e do Caribe vão se reunir em Cuba nesta semana para discutir comércio, paz e direitos humanos, em mais um sinal da disposição da região em se contrapor ao domínio dos Estados Unidos. A conferência de dois dias deve tratar de temas como as negociações de paz na Colômbia, pobreza no Haiti e direitos humanos. Ao todo, 33 países da região vão participar, incluindo a presidente Dilma Rousseff. Os EUA e o Canadá não foram convidados. Enquanto os governantes devem expressar a solidariedade com Cuba e talvez tentar um encontro com o ex-presidente Fidel Castro, dissidentes cubanos pró-direitos humanos na ilha comunista vão buscar chamar a atenção dos líderes e dos jornalistas presentes. Em eventos internacionais anteriores em Cuba, os dissidentes tentaram destacar as violações aos direitos humanos e a falta de democracia no único regime de partido único no Hemisfério Ocidental. Opositores do governo relataram durante o fim de semana que foram alertados pela polícia a não irem até o fórum em Havana e também disseram que ativistas foram temporariamente detidos. Entre os presos está José Ferrer, líder de um dos mais ativos grupos de oposição. A polícia prendeu Ferrer na sexta-feira e o soltou no domingo, segundo o grupo do qual ele faz parte. A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) teve a sua primeira cúpula no Chile no ano passado. O grupo foi estabelecido como rival da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Cúpula das Américas, dominadas pelos EUA, das quais Cuba não participa. Antes do começo oficial da reunião na terça-feira, Cuba e Brasil vão inaugurar o projeto de um porto no valor de 900 milhões de dólares, financiado principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e construído pela Odebrecht.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
PSB vai lançar candidato de faz-de-conta para satisfazer Marina Silva
20/1/2014 13:15
Por Antonio Lassance - do Rio de Janeiro
Por Antonio Lassance - do Rio de Janeiro
Para engolir a vice de Eduardo Campos, Marina Silva terá que se contentar com uma candidatura de araque na emblemática disputa pelo Governo de São Paulo.
Marina Silva cobrou de Eduardo Campos um preço para ser sua vice na chapa presidencial: que o PSB lance candidato a governador em São Paulo, abortando o apoio que já estava acertado à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB).
Ganhou, mas não levou. O PSB de São Paulo, sobre o qual Marina e sua Rede não têm qualquer peso, pretende lançar um candidato de araque.
Alckmin foi comunicado dessa decisão por um emissário do PSB cujo nome não foi revelado. Mas sabe-se que o emissário fez serviço completo, explicando ao governador qual é o plano. O partido não se coligará ao tucano no primeiro turno, mas já sinalizará que, em um eventual segundo turno, apoiará Alckmin.O PSB se prepara para lançar uma candidatura que se confessa totalmente fajuta.
De pronto se admite fora de um eventual segundo turno e ansioso por apoiar o atual governador, assim que puder. Não se sabe ao certo, mas Alckmin só pode ter encerrado a conversa com um “muito obrigado”.
A intenção do PSB é arranjar um candidato a governador que não deve fazer sua própria campanha. Será um anticandidato. Tentará não roubar votos de Alckmin para também tentar contribuir ao máximo para diminuir as chances de segundo turno.
O episódio, até o momento, foi o que mais atritou a combinação entre o PSB de Eduardo Campos e a Rede, grupo de Marina Silva. De uma só vez, o PSB vai satisfazer e desmoralizar a Rede.
O PSB paulista é dominado pelos alckimistas e já tinha planos de ocupar a vice com o deputado federal Márcio França. Intenção frustrada, a ideia agora é ajudar Alckmin de outra maneira.
A primeira opção da Rede, Luiza Erundina, está praticamente descartada. A própria Erundina não quer. A alternativa de Ricardo Young, do PPS, deve ser barrada pelo próprio PPS de S. Paulo, dominado por Roberto Freire, devoto fervoroso do PSDB paulista.
De forma velada, há um veto do PSB à opção por Walter Feldman, ex-PSDB, obviamente não por sua relação com seu partido de origem – que mora no coração do PSB paulista -, e sim pela condição de Feldman como fiel escudeiro de Marina.
Se a convenção estadual do PSB, que deve ocorrer no período de 10 a 30 de junho, escolher o nome do deputado Márcio França ao governo de São Paulo, o PSB estará brincando que tem candidato.
França atuará como um pseudocandidato, mas será tratado pelos adversários como um candidato de mentirinha. Será uma enganação que jogará uma pá de cal na já ridicularizada pregação que Eduardo Campos e Marina Silva fazem por uma “nova política”.
Ainda é possível que consigam demover Márcio França dessa intenção e que apareça uma solução alternativa. Nem Márcio, nem Erundina, nem Young, nem Feldman. Alguém provavelmente menos conhecido que qualquer um dos quatro. Alckmin, mais uma vez, dirá “muito obrigado”.
Marina Silva deve saborear sua vitória antes que ela se evapore. Porém, como uma vitória de Pirro, vai lhe custar o alto preço de fazer sua Rede engolir a vice de Campos e de ter que fingir que tem candidato na emblemática disputa pelo Governo de São Paulo. Será então a hora, como dizia o poeta, de “fingir que é dor a dor que deveras sente”.
Antonio Lassance é doutor em Ciência Política
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
seg, 13/01/14
por Gerson Camarotti |
categoria Pontificado de Francisco
O Blog recomenda a leitura do perfil escrito pelo vaticanista Juan Arias, do El País, sobre o novo cardeal Capovilla:
Entre os novos cardeais escolhidos pelo papa Francisco em seu primeiro consistório aparece uma figura simbólica: a de Loris Capovilla, de 99 anos, que foi secretário pessoal do papa João XXIII, o papa do século passado com quem Francisco guarda a maior semelhança.
Ninguém até agora tinha lembrado de dar o barrete de cardeal àquele que foi a figura chave, o confidente e o criador da imagem do chamado “papa bom”. Ele tinha sido relegado ao esquecimento, e, desde se aposentar como arcebispo, vivia em Sotto il Monte, a cidadezinha na qual nasceu o futuro papa João XXIII, filho de camponeses. E ali Capovilla, durante anos e quase em silêncio, fez um trabalho discreto de ajuda e conselho aos mais necessitados.
Dias depois de eleito, o papa Francisco telefonou a Capovilla e lhe disse, brincando: “O senhor tem voz de jovem”.
Hoje ele o nomeou cardeal. O escolheu como símbolo, muito ao seu estilo.
Clique aqui para ler a íntegra.
Entre os novos cardeais escolhidos pelo papa Francisco em seu primeiro consistório aparece uma figura simbólica: a de Loris Capovilla, de 99 anos, que foi secretário pessoal do papa João XXIII, o papa do século passado com quem Francisco guarda a maior semelhança.
Ninguém até agora tinha lembrado de dar o barrete de cardeal àquele que foi a figura chave, o confidente e o criador da imagem do chamado “papa bom”. Ele tinha sido relegado ao esquecimento, e, desde se aposentar como arcebispo, vivia em Sotto il Monte, a cidadezinha na qual nasceu o futuro papa João XXIII, filho de camponeses. E ali Capovilla, durante anos e quase em silêncio, fez um trabalho discreto de ajuda e conselho aos mais necessitados.
Dias depois de eleito, o papa Francisco telefonou a Capovilla e lhe disse, brincando: “O senhor tem voz de jovem”.
Hoje ele o nomeou cardeal. O escolheu como símbolo, muito ao seu estilo.
Clique aqui para ler a íntegra.
Os sinais de Francisco ao anunciar a primeira lista de cardeais
dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |
categoria Pontificado de Francisco
A primeira lista de criação de cardeais de
Francisco é um claro sinal do que ele deseja para o seu pontificado. Dos
16 purpurados com menos de 80 anos, e que, portanto, podem votar num
conclave, apenas quatro ocupam cargos na Cúria Romana e 12 são titulares
de arquidioceses espalhadas pelo Mundo. A nomeação mais surpreendente
foi a do monsenhor Chibly Langlois, bispo de Les Cayes: o primeiro
cardeal do Haiti. Um forte sinal de que Francisco deve usar o título de
cardeal para fortalecer a posição de prelados da Igreja em países
periféricos e que enfrentam dificuldades políticas e socais.
Nessa primeira lista, chama atenção a ausência da nomeação de cardeais de sedes tradicionais, como a do patriarcado de Veneza ou do arcebispado de Turim. Outro nome ausente da lista foi o do monsenhor francês Jean-Louis Bruguès, bibliotecário da Santa Sé, cargo que normalmente é ocupado por um cardeal.
Ao invés de favorecer nomes da Cúria e da Itália, Francisco aprofundou a estratégia de universalização da Igreja ao indicar um segundo cardeal para as Filipinas (principal país católico da Ásia), monsenhor Orlando Quevedo, e outro para a Coréia do Sul, Andrew Yeom Soo jung, arcebispo de Seul. O Papa também incluiu na lista dois cardeais para o continente africano.
Para a América Latina, além do Haiti, o Papa Francisco fez questão de indicar com as primeiras nomeações prelados próximos e de sua confiança, como dom Orani Tempesta, no Rio, e o sucessor dele em Buenos Aires, o arcebispo Mario Aurelio Poli.
Francisco também aceitou a sugestão feita por dois cardeais próximos e que participam do G8 para a reforma da Cúria: Maradiaga, de Honduras, influenciou na indicação de Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua, na Nicarágua; e o chileno Ossa defendia a nomeação de Ricardo Ezzati Andrello, arcebispo de Santiago.
Na Cúria Romana, o Papa decidiu conceder a púrpura para nomes com experiência diplomática na América Latina: Pietro Parolin, secretário de Estado, foi núncio na Venezuela; Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos, foi núncio no Brasil, Paraguai e Haiti; e Beniamino Stella, prefeito da Congregação para o Clero, foi núncio na Colômbia.
A única exceção dessa lista curial foi o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Műller, que é um nome próximo do Papa Emérito Bento XVI. Foi um gesto de Francisco ao antecessor, já que monsenhor Müller é considerado um conservador em doutrina e não tem uma linha de pensamento em sintonia com Francisco.
Um destaque especial para a lista foi a nomeação de Loris Capovilla, de 98 anos, que foi secretário do Papa João XXIII. Apesar de não poder votar num conclave por causa da idade, a escolha de Capovilla foi uma homenagem e um símbolo de que Francisco quer resgatar a importância do pontificado de João XXIII, responsável por convocar o Concílio Vaticano II.
Publicado às 15h59
Veja análise no Jornal da GloboNews:
Nessa primeira lista, chama atenção a ausência da nomeação de cardeais de sedes tradicionais, como a do patriarcado de Veneza ou do arcebispado de Turim. Outro nome ausente da lista foi o do monsenhor francês Jean-Louis Bruguès, bibliotecário da Santa Sé, cargo que normalmente é ocupado por um cardeal.
Ao invés de favorecer nomes da Cúria e da Itália, Francisco aprofundou a estratégia de universalização da Igreja ao indicar um segundo cardeal para as Filipinas (principal país católico da Ásia), monsenhor Orlando Quevedo, e outro para a Coréia do Sul, Andrew Yeom Soo jung, arcebispo de Seul. O Papa também incluiu na lista dois cardeais para o continente africano.
Para a América Latina, além do Haiti, o Papa Francisco fez questão de indicar com as primeiras nomeações prelados próximos e de sua confiança, como dom Orani Tempesta, no Rio, e o sucessor dele em Buenos Aires, o arcebispo Mario Aurelio Poli.
Francisco também aceitou a sugestão feita por dois cardeais próximos e que participam do G8 para a reforma da Cúria: Maradiaga, de Honduras, influenciou na indicação de Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua, na Nicarágua; e o chileno Ossa defendia a nomeação de Ricardo Ezzati Andrello, arcebispo de Santiago.
Na Cúria Romana, o Papa decidiu conceder a púrpura para nomes com experiência diplomática na América Latina: Pietro Parolin, secretário de Estado, foi núncio na Venezuela; Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos, foi núncio no Brasil, Paraguai e Haiti; e Beniamino Stella, prefeito da Congregação para o Clero, foi núncio na Colômbia.
A única exceção dessa lista curial foi o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Műller, que é um nome próximo do Papa Emérito Bento XVI. Foi um gesto de Francisco ao antecessor, já que monsenhor Müller é considerado um conservador em doutrina e não tem uma linha de pensamento em sintonia com Francisco.
Um destaque especial para a lista foi a nomeação de Loris Capovilla, de 98 anos, que foi secretário do Papa João XXIII. Apesar de não poder votar num conclave por causa da idade, a escolha de Capovilla foi uma homenagem e um símbolo de que Francisco quer resgatar a importância do pontificado de João XXIII, responsável por convocar o Concílio Vaticano II.
Publicado às 15h59
Veja análise no Jornal da GloboNews:
Cardeal Tempesta: o perfil desejado para o pontificado de Francisco
dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |
categoria Pontificado de Francisco
Como arcebispo de Belém, dom Orani fez uma transição modelo depois de mais de duas décadas de comando do dom Vicente Zico. A terceira arquidiocese mais antiga do Brasil, Belém tem uma importância estratégica por causa do Círio de Nazaré, uma das maiores expressões de fé do Brasil. A TV Nazaré comandada pela arquidiocese aumenta a influência do arcebispo local, como a TV Aparecida, em Aparecida, já que a nova ordem da Santa Sé é de utilizar ao máximo os meios de comunicação para conter a queda do catolicismo.
A crise na arquidiocese do Rio de Janeiro só começou a ser resolvida em 27 de fevereiro de 2009. Nesta data, o papa Bento XVI designou dom Orani Tempesta, para assumir a arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro em substituição ao cardeal Eusébio Oscar Scheid, que havia renunciado ao cargo por motivo de idade.
Moderado, dom Orani foi apontado dentro da CNBB como um grande especialista em comunicação. Em outubro de 2004 foi eleito Arcebispo de Belém, no Pará. Antes, foi bispo de Rio Preto, no interior de São Paulo. Também foi eleito por duas vezes para presidir a Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB.
De perfil conciliador e diplomático, o primeiro desafio de dom Orani quando chegou ao Rio de Janeiro foi pacificar o Palácio São Joaquim. Segundo fontes da CNBB, a habilidade política mostrada por Orani nos quatro anos de comando da arquidiocese de Belém foi fundamental para a decisão do papa Bento XVI em optar por seu nome para uma sede cardinalícia.
A escolha não foi por acaso. Na CNBB, a rápida transição feita por dom Orani em Belém foi considerada um modelo a ser seguido nas grandes arquidioceses. A falta de habilidade na sucessão de arcebispos carismáticos e de forte personalidade como dom Eugênio Sales, no Rio, e dom Hélder Câmara, no Recife, causaram traumas na Igreja brasileira que permanecem até os dias atuais.
Situação bem diferente da que ocorreu em Belém, quando Orani substituiu dom Vicente Joaquim Zico, e teve como primeiro gesto convidá-lo para morar na mesma residência. Depois disso, passou a ter em dom Zico como seu principal conselheiro em Belém. Na carta enviada a dom Eusébio, o novo arcebispo do Rio ressaltou que seria uma honra a sua permanência na residência episcopal. O cardeal Eusébio preferiu deixar o Rio. Ao mesmo tempo, Orani fez questão de telefonar para dom Eugênio, com quem já tinha um bom diálogo. Dom Eugênio Sales faleceu em 2012.
Em 2009, a Santa Sé não quis arriscar numa escolha duvidosa para a arquidiocese do Rio de Janeiro, principalmente pela sua importância. Segundo bispos que estiveram no Vaticano naquele período, havia grande desconforto com a crise estabelecida entre os grupos de dom Eusébio e de dom Eugênio. Como arcebispo de transição, já que foi nomeado para o Rio com idade avançada, a expectativa é que dom Eusébio ele fizesse uma passagem rápida e tranqüila. O que não ocorreu.
Mas com a escolha de dom Orani, o Vaticano quis retomar a tradição na arquidiocese do Rio de Janeiro de longas administrações como a de dom Eugenio e a dom Jaime Câmara que completaram três décadas no cargo.
Emocionado em entrevista concedida ainda em Belém, em 2009, o arcebispo revelou que recebeu o comunicado de Roma de que iria assumir a sede do Rio de Janeiro dias antes do anúncio oficial. “A explicação porque eu fui nomeado eu não tenho. Eu disse sim ao chamado, mas peço a Deus que me capacite. É um misto de dor ao deixar e esperança ao chegar. Quando cheguei em Belém, me perguntaram o que vim fazer aqui. Eu respondi: conhecer as pessoas e depois seguir em caminhada. A mesma coisa vou fazer lá. O Rio de Janeiro é uma arquidiocese única, que vou conhecer, vou conviver com os padres, religiosos e depois ver como posso servir. Levarei a Amazônia comigo”, disse dom Orani.
Na CNBB, poucos prelados possuem tanto poder de articulação como dom Orani Tempesta. Ele conseguiu um feito inédito em 2007: a Campanha da Fraternidade foi lançada pela primeira vez fora de Brasíla. Com o tema sobre a Amazônia, ela foi lançada em Belém. Ele também teve grande influência na escolha da Campanha da Fraternidade de 2009, sobre segurança pública, um indicativo de um dos desafios que ele iria enfrentar no Rio de Janeiro.
Na carta que enviou a dom Eusébio, ele lembrou a importância desse tema da segurança pública para o Rio de Janeiro. Outra preocupação de sua passagem pelo Rio ficou evidente nos primeiros meses de sua administração: o combate à evasão de fiéis para as seitas evangélicas. Com grande experiência na utilização de meios de comunicação para a divulgação da fé católica, esse também foi uma aposta de da Santa Sé na nova administração da arquidiocese do Rio.
Dom Orani também passou a subir os morros da cidade para conquistar fiéis. Em algumas favelas que tinham sido tomadas pelo tráfico, dom Orani apoiou a ação de padres e religiosos que corriam risco. O rápido reconhecimento do trabalho do arcebispo viria anos depois, quando Bento XVI escolheu o Rio de Janeiro como a sede da Jornada Mundial da Juventude, de 2013. Com a renúncia de Bento, dom Orani foi anfitrião do Papa Francisco, de quem se aproximou. A viagem ao Rio de Janeiro, em julho passado, foi o primeiro evento internacional do Papa Bergoglio. O mundo estava de olho em cada gesto de Francisco. E foi no Brasil que ele sinalizou as primeiras diretrizes do seu pontificado.
Esse perfil atualizado para o Blog foi escrito originalmente para o livro “Segredos do Conclave”, publicado em 2013, pela Geração Editorial.
Publicado às 13h13
Dom Orani tem perfil conciliador e afinidade com o Papa
dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |
categoria Pontificado de Francisco
O caráter conciliador é o principal traço do perfil de dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, cuja nomeação para cardeal foi anunciada neste domingo pelo Papa Francisco, com quem tem estreita relação.
Antes mesmo da eleição do Papa Francisco, dom Orani já demonstrava ter um estilo semelhante ao do pontífice, na época em que Jorge Mario Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires: o de sair do palácio episcopal para ir às ruas. No Rio de Janeiro, Dom Orani sempre visitou morros e comunidades pobres, mesmo quando havia ameaças do narcotráfico.
Na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado, no Rio, chamou muito a atenção a sintonia entre o Papa e dom Orani, anfitrião do evento. Isso fortaleceu ainda mais a relação pessoal entre eles.
Dom Orani também empresta um caráter nacional à condição de cardeal brasileiro – antes de ser arcebispo do Rio de Janeiro, foi bispo em São José do Preto (SP) e arcebispo em Belém. É um dos bispos que mais trata da questão amazônica. Foi dele a iniciativa de propor a Amazônia como tema da Campanha da Fraternidade, em 2007, única vez em que o lançamento do evento ocorreu fora de Brasília (em Belém).
Além disso, é um homem de comunicação – administrou a TV Nazaré e foi presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB –, qualidade considerada fundamental no momento em que a Igreja Católica se empenha em recuperar fieis.
Publicado às 11h13
Veja comentário no Jornal da GloboNews:
Antes mesmo da eleição do Papa Francisco, dom Orani já demonstrava ter um estilo semelhante ao do pontífice, na época em que Jorge Mario Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires: o de sair do palácio episcopal para ir às ruas. No Rio de Janeiro, Dom Orani sempre visitou morros e comunidades pobres, mesmo quando havia ameaças do narcotráfico.
Na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado, no Rio, chamou muito a atenção a sintonia entre o Papa e dom Orani, anfitrião do evento. Isso fortaleceu ainda mais a relação pessoal entre eles.
Dom Orani também empresta um caráter nacional à condição de cardeal brasileiro – antes de ser arcebispo do Rio de Janeiro, foi bispo em São José do Preto (SP) e arcebispo em Belém. É um dos bispos que mais trata da questão amazônica. Foi dele a iniciativa de propor a Amazônia como tema da Campanha da Fraternidade, em 2007, única vez em que o lançamento do evento ocorreu fora de Brasília (em Belém).
Além disso, é um homem de comunicação – administrou a TV Nazaré e foi presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB –, qualidade considerada fundamental no momento em que a Igreja Católica se empenha em recuperar fieis.
Publicado às 11h13
Veja comentário no Jornal da GloboNews:
domingo, 12 de janeiro de 2014
Papa Francisco anuncia 19 novos cardeais, um deles brasileiro
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, vai ser nomeado em fevereiro.
Anúncio foi feito durante o Angelus, neste domingo (12), no Vaticano.
- O Papa Francisco durante o Angelus, neste domingo (12), no Vaticano (Foto: Reprodução)
Durante a cerimônia do Angelus, na Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco anunciou que vai nomear 19 novos cardeais em 22 de fevereiro, no primeiro consistório (reunião de cardeais) de seu pontificado.
saiba mais
Os novos cardeais são dos seguintes países, além do Brasil: Itália, Alemanha, Reino Unido, Nicarágua, Canadá, Costa do Marfim, Argentina, Coreia do Sul, Chile, Burkina Faso, Filipinas, Haiti, Espanha e Santa Lúcia.É a primeira lista de nomeados ao Colégio Cardinalício feita por Francisco em quase um ano de pontificado.
Dos 19 anunciados, 16 têm menos de 80 anos e poderão votar no Conclave que elegerá o sucessor do atual Papa.
Após anunciar o nome do brasileiro Dom Orani, diante da multidão reunida na Praça, Francisco parou a leitura e fez um comentário: "São tantos brasileiros, não?"
1 – Mons. Pietro Parolin, arcebispo titular de Acquapendente, Itália, secretário de Estado.
2 – Mons. Lorenzo Baldisseri, arcebispo titular de Diocleziana, Itália, secretário geral do Sínodo dos Bispos.
3 - Mons. Gerhard Ludwig Műller, arcebispo-bispo emérito de Regensburg, Alemanha, prefeito da congregação da doutrina da fé.
4 – Mons. Beniamino Stella, arcebispo titular de Midila, Itália, prefeito da Congregação para o Clero.
5 – Mons. Vincent Nichols, arcebispo de Westminster, Grã-Bretanha.
6 – Mons. Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua, na Nicarágua.
7 – Mons. Gérald Cyprien Lacroix, arcebispo de Québec, no Canadá.
8 – Mons. Jean-Pierre Kutwa, arcebispo de Abidjan, na Costa do Marfim.
9 – Mons. Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, Brasil.
10 – Mons. Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia-Città della Pieve, Itália.
11 – Mons. Mario Aurelio Poli, arcebispo de Buenos Aires, na Argentina.
12 – Mons. Andrew Yeom Soo jung, arcebispo de Seul, na Coreia do Sul.
13 – Mons. Ricardo Ezzati Andrello, aecebispo de Santiago do Chile.
14 – Mons. Philippe Nakellentuba Ouédraogo, arcebispo de Ouagadougou, Burkina Faso.
15 – Mons. Orlando B. Quevedo, arcebispo de Cotabato, nas Filipinas.
16 – Mons. Chibly Langlois, bispo de Les Cayes, no Haiti.
Os três não-eleitores são:
1 – Mons. Loris Francesco Capovilla, arcebispo titular de Mesembria, Itália.
2 – Mons. Fernando Sebastián Aguilar, arcebispo emérito de Pamplona, Espanha.
3 – Mons. Kelvin Edward Felix, arcebispo emérito de Castries, Santa Lúcia.
O pontífice argentino vai reunir em consistório os cardeais do mundo inteiro em 22 de fevereiro, quando os anunciados neste domingo receberão o título, o capelo e o anel.
O Papa também anunciou que, antes da cerimônia de 22 de fevereiro, reunirá o Colégio Cardinalício nos dois dias anteriores para "debater o tema da família".
O último consistório para a criação de cardeais remonta a novembro de 2012.
O então Papa e hoje Papa Emérito Bento XVI promoveu seis prelados não europeus, para corrigir a tendência manifestada nove meses antes com a criação de 12 cardeais europeus com menos de 80 anos de um total de 18.
122 eleitores
Considerados os "senadores" ou "príncipes" da Igreja Católica, os cardeais têm a função de auxiliar o Papa em suas decisões, assumindo por vezes cargos na Cúria Romana, a aministração da Igreja.
Eles também participam, até completarem 80 anos, do Conclave, reunião secreta cujo objetivo é escolher um novo Papa quando o pontífice que está no cargo morre ou renuncia.
Com as nomeações deste domingo, o número de cardeais eleitores passará a 122, superando o máximo de 120 que participa de um Conclave, mas dez deles completarão 80 anos em 2014.
O conclave no qual Francisco foi eleito Papa, em 13 de março do ano passado, era formado por 69 cardeais da Europa, 19 das Américas, 11 da África e 10 da Ásia.
A presença de nomes de países em desenvolvimento reforça a tendência, demonstrada por Francisco, de fazer um pontificado mais voltado aos pobres.
São quatro eleitores (Dom Raymundo Damasceno Assis, Dom João Braz de Aviz, Dom Cláudio Hummes e Dom Odilo Pedro Scherer) e cinco não-eleitores (Dom Geraldo Majella Agnelo, Dom Serafim Fernandes de Araújo, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom José Freire Falcão e Dom Eusébio Oscar Scheid.
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Artigo do El País descreve um Brasil que só aceita a democracia
Na visão do jornalista espanhol Juan Arias o Brasil entra 2014 cheio de incertezas políticas e econômicas, mas o povo brasileiro sabe muito bem o que quer do futuro. Para ele, o país de "pessoas felizes", apesar de conviverem com os fatos violentos produzidos pelo tráfico de drogas, caminham "de maneira estável no território das liberdades democráticas dos países modernos".
Em um artigo publicado no El País, Arias diz que o país quer ficar livre das prevaricações de muitas tentações políticas e populistas, como mostrou os protestos de junho do ano passado e este desejo coletivo não tem mais volta. "Hoje os brasileiros esmagadoramente não desiste dos valores democráticos conquistados e com dor e, por vezes, até mesmo sangue", diz o texto. O artigo relata que uma realidade que foi constatada agora é que o Brasil parecia um gigante adormecido, aceitou sem indignação todos os crimes e corrupção cometidos contra a democracia, mas hoje estão desiludidos com a política.
Arias diz que "Brasil perdeu a virgindade de sua adolescência" e só aceita viver agora em uma democracia. "O protesto contra a forma como os políticos agem, a decepção com o comportamento antiético, a ameaça de não votar em massa nas próximas eleições, desinteresse e menos desprezo pela democracia, mas um desejo de formas mais limpas significa mais participativa", destaca o texto.
De acordo com Juan Arias, enquanto que em países como a Europa cresce um mal estar que tem levado à uma nostalgia pelo passado autoritário, com tentações anti-semitas, no Brasil acontece o inverso. "Eles [brasileiros] lutam para abrir maiores margens de democracia e de protestar contra as possíveis tentações do populismo. Brasileiros querem mais democracia, não menos", ressalta Arias.
O jornalista comenta das conquistas sociais do governo PT, desde a administração Lula e diz que se a presidente Dilma Rousseff renovar o seu mandato, como indicam as pesquisas recentes, o Brasil vai comemorar. E avaliou a consolidação da democracia através dos partidos no decorrer dos últimos 30 anos. Arias faz uma reflexão desta conquista democrática e ressalta que "a possibilidade de viver em liberdade, sem a sombra do medo da polícia ou retrocesso é muito mais importante do que ganhar a Copa do Mundo".
Para o jornalista, o Brasil não precisa mais de líderes ou salvadores, pois é um país moderno, que entrou totalmente na dinâmica do jogo democrático e se sentiu confortável nele. "Ele quer ser, sim, protagonista desta conquista, muito menos sem as mãos daqueles que procuram o benefício dos cidadãos em todas as decisões, deixando-lhes apenas a liberdade miserável de votar a cada quatro anos. E obrigatório".
Arias diz que "Brasil perdeu a virgindade de sua adolescência" e só aceita viver agora em uma democracia. "O protesto contra a forma como os políticos agem, a decepção com o comportamento antiético, a ameaça de não votar em massa nas próximas eleições, desinteresse e menos desprezo pela democracia, mas um desejo de formas mais limpas significa mais participativa", destaca o texto.
De acordo com Juan Arias, enquanto que em países como a Europa cresce um mal estar que tem levado à uma nostalgia pelo passado autoritário, com tentações anti-semitas, no Brasil acontece o inverso. "Eles [brasileiros] lutam para abrir maiores margens de democracia e de protestar contra as possíveis tentações do populismo. Brasileiros querem mais democracia, não menos", ressalta Arias.
O jornalista comenta das conquistas sociais do governo PT, desde a administração Lula e diz que se a presidente Dilma Rousseff renovar o seu mandato, como indicam as pesquisas recentes, o Brasil vai comemorar. E avaliou a consolidação da democracia através dos partidos no decorrer dos últimos 30 anos. Arias faz uma reflexão desta conquista democrática e ressalta que "a possibilidade de viver em liberdade, sem a sombra do medo da polícia ou retrocesso é muito mais importante do que ganhar a Copa do Mundo".
Para o jornalista, o Brasil não precisa mais de líderes ou salvadores, pois é um país moderno, que entrou totalmente na dinâmica do jogo democrático e se sentiu confortável nele. "Ele quer ser, sim, protagonista desta conquista, muito menos sem as mãos daqueles que procuram o benefício dos cidadãos em todas as decisões, deixando-lhes apenas a liberdade miserável de votar a cada quatro anos. E obrigatório".
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Século 21 - Igreja Católica dá guinada e entra numa nova era
O século 21 começou há mais de uma década, mas os sinais mais profundos de mudanças dos tempos, quebra de tabus e consolidação de novos paradigmas começaram realmente a despontar nos últimos anos. Grandes transformações na tecnologia, na ciência, novos conceitos de família e até de religião chegam para mostrar que o "futuro" está cada vez mais presente. O JB inicia neste dia 1º uma série de reportagens que explorará estas mudanças e suas consequências.
Uma das transformações mais significativas acontece na Igreja Católica Apostólica Romana. Com suas doutrinas seculares, ela também não ficou imune a tantas mudanças em diversas esferas.
A mesma que ajudou a levantar e derrubar reis e rainhas, que fez a inquisição para julgar e condenar com suas leis, que foi ligada ao domínio do conhecimento, elege agora um jesuíta latino-americano para assumir a função de papa, que chegou, vale lembrar, a ser chamado recentemente de marxista por ultra-conservadores americanos, depois de fazer duras críticas ao nosso sistema capitalista, ao consumismo e à idolatria do dinheiro - na primeira exortação apostólica, Evangelii Gaudium. Em resposta, o Papa Francisco disse que considera a ideologia marxista "equivocada", mas que não se sentiu ofendido por ter sido chamado como tal. "Na minha vida conheci tantos marxistas bons como pessoas que não me ofendo", disse o Pontífice ao jornal La Stampa.Jorge Mario Bergoglio, assim que assumiu o papado, em março de 2013, deu sinais de que mudanças poderiam surgir ao recusar os luxuosos cômodos do Palácio Apostólico no Vaticano e escolher a Casa de Santa Marta, para ficar “junto com os outros membros do clero”. É lá que hoje o papa costuma tomar café da manhã, além de celebrar missa para os funcionários locais. Dispensou também o carro oficial e os seguranças. No início de dezembro, eram crescentes os rumores de que ele costuma "escapar" do Vaticano durante a noite, vestido como padre, para encontrar pessoas necessitadas de Roma. Autoridades do Vaticano negaram.
O novo chefe supremo da igreja católica assumiu depois da renúncia de Bento XVI, a primeira dos últimos 600 anos. Entre as atitudes que soam como início de mudanças profundas, Francisco formou uma comissão para reformar a cúria, outra para acompanhar as operações do Instituto para as Obras de Religião (IOR) e declarou que os homossexuais não deveriam ser julgados ou marginalizados. "Se alguém é gay e busca o Senhor de boa fé, quem sou eu para julgar?", comentou. Medidas e palavras impensáveis para uma Igreja Católica de séculos atrás.
Entre as publicações que lhe renderam o título de personalidade do ano está a revista "The Advocate", a mais tradicional da comunidade gay norte-americana. Quando foi eleito personalidade do ano pela Time, o secretário de Estado do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que o título "é um sinal positivo" que demonstra "entendimento" das mensagens religiosas e morais do papa.
Historiadores e sociólogos especializados no estudo da igreja ajudam a esclarecer um pouco as mudanças que essa instituição vem passando e o que elas significam para a sociedade, e também para a própria instituição. Eles ressaltam a retomada de uma maior força, até com ateístas e agnósticos. Até pouco tempo taxada de atrasada e/ou engessada, a igreja agora percebe um crescimento rápido de fiéis e simpatizantes, ao falar de questões que antes não encontravam voz na entidade. O Vaticano tem ficado lotado de pessoas nos últimos nove meses, motivadas pelo discurso inovador do papa Francisco, acredita-se.
Mario Jorge da Motta Bastos, doutor em História Social pela USP e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica sobre a presença da Igreja Católica na Idade Média. Vertente da historiografia francesa, ligada a Alain Guerreau, aponta que a supremacia da Igreja naquele período seria decorrência de vários níveis: controle do espaço - pela multiplicação dos templos, criação das paróquias e inserção em comunidades; controle do tempo - com os sinos marcando as principais jornadas diárias; controle da cultura erudita - com atuação nas universidades; controle dos principais rituais cotidianos e ritos de passagem - como o casamento; e sacralização da estrutura social.
"Esta instituição tem séculos de existência, ao longo dos quais instituiu uma base material incomensurável, articulou-se com e reproduziu-se no interior de sistemas e estruturas de poder diversas. Se, na Idade Média, foi enorme o seu papel na sacralização do sistema feudal, também são clássicas as análises que articulam o cristianismo - e não só a sua vertente protestante - à implantação do sistema capitalista. De qualquer forma, a hegemonia gozada em toda a Idade Média sofreu consideráveis e sucessíveis abalos relacionados, é claro, com a Reforma protestante e a consecutiva proliferação de vertentes religiosas. De minha parte, contudo, creio que um abalo importante foi decorrente do processo de 'perda de potência sagrada', de laicização das sociedades contemporâneas, que pôs em xeque a ascendência da religião como instrumento incontestável e socialmente generalizado de compreensão do mundo", comentou. Para Mario Jorge, a escolha de Bergoglio como papa foi "bastante consequente", devido à crise institucional e de crença que afetava a igreja. "A guinada à direita do episcopado de João Paulo II teve como efeito colateral o recuo do catolicismo nas áreas pobres dos países periféricos. Bento XVI foi uma aposta na sequência daquela orientação, que se mostrou equivocada e redundou na sua renúncia. Esse quadro geral ajuda a entender a escolha de um latino-americano - frente há muito mais importante, no que se refere à quantidade de crentes, de sustentação da Igreja do que a própria Europa".
Maurício Vieira Martins, professor do Departamento de Sociologia da UFF, destacou que existe hoje um debate entre os especialistas tentando explicar os diferentes motivos que levaram o papa Francisco a assumir posições próximas ao que, num outro momento da Igreja Católica, ficou conhecido como uma opção preferencial pelos pobres. "A rigor, ainda não existe uma resposta segura para isso, até porque o início do pontificado de Bergoglio é muito recente."
O professor considera errôneo afirmar um suposto caráter marxista do papa, por várias razões. Suas declarações contra uma "economia de exclusão e desigualdade" representam o mínimo que se espera de um homem comprometido com o bem estar da população mais pobre. "Em outras palavras, podemos dizer que não é o papa que é marxista, mas sim que ele está lidando com adversários tão conservadores que se sentem ofendidos mesmo com iniciativas moderadas de redistribuição da riqueza social", ressaltou.
Ivo Lesbaupin, professor na UFRJ, graduado em Filosofia e doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail, da França, acredita por sua vez, que a igreja está, sim, totalmente diferente. Até a metade do século 20, ressalta, ela tinha papel de hegemonia cultural no ocidente inteiro e parte do oriente médio, e extremo oriente. "Ainda tem um poder da igreja, de um modo geral, em relação ao curso da nação, aparelho jurídico, a certa datas comemorativas".
No início da década de 1960, explica Lesbaupin, aconteceu um processo de reforma na igreja que abre as portas para o diálogo com as ciências, com as demais igrejas cristãs, com judeus e muçulmanos, minimização do discurso monárquico por excelência. "Isso flexibilizou um pouco mais a igreja. Se ela não tinha ainda a coragem de dialogar com radicalidade sobre assuntos como aborto, homossexuais, pelo menos não tínhamos prática persecutória".
"Na metade da década de 1980, no entanto, a igreja volta a algumas práticas, houve moralização do discurso da igreja, mas aí o discurso já não era mais tão audível", aponta. "Até que chega Francisco com ideia de diálogo da igreja, do ecumenismo, com um novo assento não mais na moralidade, mas na revolução afetiva, no serviço ao outro, que ganha alguma voz ainda hoje, neste mundo de esfacelamento quase geral de alguns valores que até o século 20 eram estáveis."
Questionado sobre se o discurso do papa estaria em sintonia com o novo momento da Europa e Estados Unidos, o professor responde que sim. Neste sentido, então, o papa tem dado lugar de proeminência, com discursos sobre a desumanização do curso econômico do mundo. "Ele não veio com uma resposta antiga, ele veio dizer que temos que dialogar para dar conta de todo este absurdo."
Lesbaupin ressalta que a igreja, em seu início, era altamente pobre, ligada a populações excluídas do império romano, até que os romanos a assumiram e formou-se a aliança entre poder civil e eclesiástico. No entanto, ele acredita que há uma série de limitações das ações do papa, para que se possa adotar mudanças grandes.
"A longo prazo, a gente não sabe bem o que vai acontecer. Mas me parece que, se essa postura durar por mais 10 anos, vamos começar a ver certas mudanças", disse Lesbaupin.
Quebra de tabus mostra que o mundo mergulha de fato numa fase de grandes transformações
O novo chefe supremo da igreja católica assumiu depois da renúncia de Bento XVI, a primeira dos últimos 600 anos. Entre as atitudes que soam como início de mudanças profundas, Francisco formou uma comissão para reformar a cúria, outra para acompanhar as operações do Instituto para as Obras de Religião (IOR) e declarou que os homossexuais não deveriam ser julgados ou marginalizados. "Se alguém é gay e busca o Senhor de boa fé, quem sou eu para julgar?", comentou. Medidas e palavras impensáveis para uma Igreja Católica de séculos atrás.
Entre as publicações que lhe renderam o título de personalidade do ano está a revista "The Advocate", a mais tradicional da comunidade gay norte-americana. Quando foi eleito personalidade do ano pela Time, o secretário de Estado do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que o título "é um sinal positivo" que demonstra "entendimento" das mensagens religiosas e morais do papa.
Historiadores e sociólogos especializados no estudo da igreja ajudam a esclarecer um pouco as mudanças que essa instituição vem passando e o que elas significam para a sociedade, e também para a própria instituição. Eles ressaltam a retomada de uma maior força, até com ateístas e agnósticos. Até pouco tempo taxada de atrasada e/ou engessada, a igreja agora percebe um crescimento rápido de fiéis e simpatizantes, ao falar de questões que antes não encontravam voz na entidade. O Vaticano tem ficado lotado de pessoas nos últimos nove meses, motivadas pelo discurso inovador do papa Francisco, acredita-se.
Mario Jorge da Motta Bastos, doutor em História Social pela USP e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica sobre a presença da Igreja Católica na Idade Média. Vertente da historiografia francesa, ligada a Alain Guerreau, aponta que a supremacia da Igreja naquele período seria decorrência de vários níveis: controle do espaço - pela multiplicação dos templos, criação das paróquias e inserção em comunidades; controle do tempo - com os sinos marcando as principais jornadas diárias; controle da cultura erudita - com atuação nas universidades; controle dos principais rituais cotidianos e ritos de passagem - como o casamento; e sacralização da estrutura social.
"Esta instituição tem séculos de existência, ao longo dos quais instituiu uma base material incomensurável, articulou-se com e reproduziu-se no interior de sistemas e estruturas de poder diversas. Se, na Idade Média, foi enorme o seu papel na sacralização do sistema feudal, também são clássicas as análises que articulam o cristianismo - e não só a sua vertente protestante - à implantação do sistema capitalista. De qualquer forma, a hegemonia gozada em toda a Idade Média sofreu consideráveis e sucessíveis abalos relacionados, é claro, com a Reforma protestante e a consecutiva proliferação de vertentes religiosas. De minha parte, contudo, creio que um abalo importante foi decorrente do processo de 'perda de potência sagrada', de laicização das sociedades contemporâneas, que pôs em xeque a ascendência da religião como instrumento incontestável e socialmente generalizado de compreensão do mundo", comentou. Para Mario Jorge, a escolha de Bergoglio como papa foi "bastante consequente", devido à crise institucional e de crença que afetava a igreja. "A guinada à direita do episcopado de João Paulo II teve como efeito colateral o recuo do catolicismo nas áreas pobres dos países periféricos. Bento XVI foi uma aposta na sequência daquela orientação, que se mostrou equivocada e redundou na sua renúncia. Esse quadro geral ajuda a entender a escolha de um latino-americano - frente há muito mais importante, no que se refere à quantidade de crentes, de sustentação da Igreja do que a própria Europa".
Maurício Vieira Martins, professor do Departamento de Sociologia da UFF, destacou que existe hoje um debate entre os especialistas tentando explicar os diferentes motivos que levaram o papa Francisco a assumir posições próximas ao que, num outro momento da Igreja Católica, ficou conhecido como uma opção preferencial pelos pobres. "A rigor, ainda não existe uma resposta segura para isso, até porque o início do pontificado de Bergoglio é muito recente."
O professor considera errôneo afirmar um suposto caráter marxista do papa, por várias razões. Suas declarações contra uma "economia de exclusão e desigualdade" representam o mínimo que se espera de um homem comprometido com o bem estar da população mais pobre. "Em outras palavras, podemos dizer que não é o papa que é marxista, mas sim que ele está lidando com adversários tão conservadores que se sentem ofendidos mesmo com iniciativas moderadas de redistribuição da riqueza social", ressaltou.
Ivo Lesbaupin, professor na UFRJ, graduado em Filosofia e doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail, da França, acredita por sua vez, que a igreja está, sim, totalmente diferente. Até a metade do século 20, ressalta, ela tinha papel de hegemonia cultural no ocidente inteiro e parte do oriente médio, e extremo oriente. "Ainda tem um poder da igreja, de um modo geral, em relação ao curso da nação, aparelho jurídico, a certa datas comemorativas".
No início da década de 1960, explica Lesbaupin, aconteceu um processo de reforma na igreja que abre as portas para o diálogo com as ciências, com as demais igrejas cristãs, com judeus e muçulmanos, minimização do discurso monárquico por excelência. "Isso flexibilizou um pouco mais a igreja. Se ela não tinha ainda a coragem de dialogar com radicalidade sobre assuntos como aborto, homossexuais, pelo menos não tínhamos prática persecutória".
"Na metade da década de 1980, no entanto, a igreja volta a algumas práticas, houve moralização do discurso da igreja, mas aí o discurso já não era mais tão audível", aponta. "Até que chega Francisco com ideia de diálogo da igreja, do ecumenismo, com um novo assento não mais na moralidade, mas na revolução afetiva, no serviço ao outro, que ganha alguma voz ainda hoje, neste mundo de esfacelamento quase geral de alguns valores que até o século 20 eram estáveis."
Questionado sobre se o discurso do papa estaria em sintonia com o novo momento da Europa e Estados Unidos, o professor responde que sim. Neste sentido, então, o papa tem dado lugar de proeminência, com discursos sobre a desumanização do curso econômico do mundo. "Ele não veio com uma resposta antiga, ele veio dizer que temos que dialogar para dar conta de todo este absurdo."
Lesbaupin ressalta que a igreja, em seu início, era altamente pobre, ligada a populações excluídas do império romano, até que os romanos a assumiram e formou-se a aliança entre poder civil e eclesiástico. No entanto, ele acredita que há uma série de limitações das ações do papa, para que se possa adotar mudanças grandes.
"A longo prazo, a gente não sabe bem o que vai acontecer. Mas me parece que, se essa postura durar por mais 10 anos, vamos começar a ver certas mudanças", disse Lesbaupin.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Papa Francisco pede mais solidariedade e menos violência
Pontífice celebrou o primeiro Angelus de 2014.
Igreja Católica também celebra o Dia Mundial da Paz.
O Papa Francisco celebra o Angelus nesta quarta-feira (1º) no Vaticano (Foto: Filippo Monteforte/AFP)
O Papa Francisco pediu nesta quarta-feira (1º) mais solidariedade e menos violência no mundo em seu primeiro Angelus do ano, diante de uma multidão de fiéis reunidos na Praça de São Pedro."Todos nós temos a responsabilidade de trabalhar para tornar o mundo numa comunidade de irmãos que se respeitam, aceitam suas diferenças e cuidam uns dos outros", disse por ocasião do Dia Mundial da Paz celebrado pela Igreja Católica no dia 1º de janeiro.
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O primeiro Papa da América Latina também pediu o fim da violência e da injustiça que "não pode nos deixar indiferentes ou imóveis"."É hora de parar na estrada da violência", declarou com veemência, desviando-se do texto preparado com antecedência.
"O que acontece no coração da humanidade?", questionou, antes de destacar "a força da bondade, a força não-violenta da verdade e do amor".
Durante a missa de Ano Novo celebrada na parte da manhã na Basílica de São Pedro, na presença de muitos membros do corpo diplomático junto a Santa Sé, ele também falou de "fome e da sede de justiça e de paz".
Para ele, 2014 deve trazer "um verdadeiro compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva".
O Papa também exortou os fiéis a mostrar "força, coragem e esperança" durante o novo que se inicia.
Fiel ao estilo familiar que lhe rendeu grande popularidade, o Papa Francisco terminou sua oração saudando a multidão sob um sol brilhante com um alegre "bom almoço e bom ano!"
Eleito em março de 2013, após a renúncia histórica de seu antecessor Bento XVI, Francisco fez crescer as esperanças de mudanças na Igreja Católica, abalada por uma série de escândalos, incluindo de pedofilia, e a secularização das sociedades ocidentais.
O Papa de 77 anos defende uma Igreja pobre para os pobres, menos "auto-referencial" (centrada no Vaticano) e mais colegial, dando mais peso para os bispos de todo o mundo.
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