terça-feira, 14 de janeiro de 2014


seg, 13/01/14
por Gerson Camarotti |

O Blog recomenda a leitura do perfil escrito pelo vaticanista Juan Arias, do El País, sobre o novo cardeal Capovilla:
Entre os novos cardeais escolhidos pelo papa Francisco em seu primeiro consistório aparece uma figura simbólica: a de Loris Capovilla, de 99 anos, que foi secretário pessoal do papa João XXIII, o papa do século passado com quem Francisco guarda a maior semelhança.
Ninguém até agora tinha lembrado de dar o barrete de cardeal àquele que foi a figura chave, o confidente e o criador da imagem do chamado “papa bom”. Ele tinha sido relegado ao esquecimento, e, desde se aposentar como arcebispo, vivia em Sotto il Monte, a cidadezinha na qual nasceu o futuro papa João XXIII, filho de camponeses. E ali Capovilla, durante anos e quase em silêncio, fez um trabalho discreto de ajuda e conselho aos mais necessitados.
Dias depois de eleito, o papa Francisco telefonou a Capovilla e lhe disse, brincando: “O senhor tem voz de jovem”.
Hoje ele o nomeou cardeal. O escolheu como símbolo, muito ao seu estilo.
Clique aqui para ler a íntegra.

Os sinais de Francisco ao anunciar a primeira lista de cardeais


dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |

A primeira lista de criação de cardeais de Francisco é um claro sinal do que ele deseja para o seu pontificado. Dos 16 purpurados com menos de 80 anos, e que, portanto, podem votar num conclave, apenas quatro ocupam cargos na Cúria Romana e 12 são titulares de arquidioceses espalhadas pelo Mundo. A nomeação mais surpreendente foi a do monsenhor Chibly Langlois, bispo de Les Cayes: o primeiro cardeal do Haiti. Um forte sinal de que Francisco deve usar o título de cardeal para fortalecer a posição de prelados da Igreja em países periféricos e que enfrentam dificuldades políticas e socais.
Nessa primeira lista, chama atenção a ausência da nomeação de cardeais de sedes tradicionais, como a do patriarcado de Veneza ou do arcebispado de Turim. Outro nome ausente da lista foi o do monsenhor francês Jean-Louis Bruguès, bibliotecário da Santa Sé, cargo que normalmente é ocupado por um cardeal.
Ao invés de favorecer nomes da Cúria e da Itália, Francisco aprofundou a estratégia de universalização da Igreja ao indicar um segundo cardeal para as Filipinas (principal país católico da Ásia),  monsenhor Orlando Quevedo, e outro para a Coréia do Sul, Andrew Yeom Soo jung, arcebispo de Seul. O Papa também incluiu na lista dois cardeais para o continente africano.
Para a América Latina, além do Haiti, o Papa Francisco fez questão de indicar com as primeiras nomeações prelados próximos e de sua confiança, como dom Orani Tempesta, no Rio, e o sucessor dele em Buenos Aires, o arcebispo Mario Aurelio Poli.
Francisco também aceitou a sugestão feita por dois cardeais próximos e que participam do G8 para a reforma da Cúria: Maradiaga, de Honduras,  influenciou na indicação de Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua, na Nicarágua; e o chileno Ossa defendia a nomeação de Ricardo Ezzati Andrello, arcebispo de Santiago.
Na Cúria Romana, o Papa decidiu conceder a púrpura para nomes com experiência diplomática na América Latina: Pietro Parolin, secretário de Estado, foi núncio na Venezuela;  Lorenzo Baldisseri, secretário geral do Sínodo dos Bispos, foi núncio no Brasil, Paraguai e Haiti; e Beniamino Stella, prefeito da Congregação para o Clero, foi núncio na Colômbia.
A única exceção dessa lista curial foi o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Műller, que é um nome próximo do Papa Emérito Bento XVI. Foi um gesto de Francisco ao antecessor, já que monsenhor Müller é considerado um conservador em doutrina e não tem uma linha de pensamento em sintonia com Francisco.
Um destaque especial para a lista foi a nomeação de Loris Capovilla, de 98 anos, que foi secretário do Papa João XXIII. Apesar de não poder votar num conclave por causa da idade, a escolha de Capovilla foi uma homenagem e um símbolo de que Francisco quer resgatar a importância do pontificado de João XXIII, responsável por convocar o Concílio Vaticano II.
Publicado às 15h59 
Veja análise no Jornal da GloboNews:

Cardeal Tempesta: o perfil desejado para o pontificado de Francisco


dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |

Dos atuais integrantes do episcopado brasileiro, dom Orani João Tempesta se destaca pelo seu perfil conciliador, com forte conhecimento do Brasil e da região amazônica, por ser um homem ligado à comunicação, além de desempenhar no Rio de Janeiro papel semelhante ao do então cardeal Bergoglio, em Buenos Aires. Como o Papa Francisco fazia quando era arcebispo, Tempesta  costuma visitar comunidades e favelas cariocas e subir os morros do Rio, mesmo quando padres da arquidiocese recebem ameaças de integrantes do tráfico. É nessa condição que ele é criado o primeiro cardeal brasileiro do pontificado de Francisco (veja no vídeo acima entrevista de dom Orani sobre a visita do Papa Francisco ao Brasil).
Como arcebispo de Belém, dom Orani fez uma transição modelo depois de mais de duas décadas de comando do dom Vicente Zico. A terceira arquidiocese mais antiga do Brasil, Belém tem uma importância estratégica por causa do Círio de Nazaré, uma das maiores expressões de fé do Brasil. A TV Nazaré comandada pela arquidiocese aumenta a influência do arcebispo local, como a TV Aparecida, em Aparecida, já que a nova ordem da Santa Sé é de utilizar ao máximo os meios de comunicação para conter a queda do catolicismo.
A crise na arquidiocese do Rio de Janeiro só começou a ser resolvida em 27 de fevereiro de 2009. Nesta data, o  papa Bento XVI designou dom Orani Tempesta, para assumir a arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro em substituição ao cardeal  Eusébio Oscar Scheid, que havia renunciado ao cargo por motivo de idade.
Moderado, dom Orani foi apontado dentro da CNBB como um grande especialista em comunicação. Em outubro de 2004  foi eleito Arcebispo de Belém, no Pará. Antes, foi bispo de Rio Preto, no interior de São Paulo. Também foi eleito por duas vezes para presidir a Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB.
De perfil conciliador e diplomático, o primeiro desafio de dom Orani quando chegou ao Rio de Janeiro foi pacificar o Palácio São Joaquim. Segundo fontes da CNBB, a habilidade política mostrada por Orani nos quatro anos de comando da arquidiocese de Belém foi fundamental para a decisão do papa Bento XVI em optar por seu nome para uma sede cardinalícia.
A escolha não foi por acaso. Na CNBB, a rápida transição feita por dom Orani em Belém foi considerada um modelo a ser seguido nas grandes arquidioceses. A falta de habilidade na sucessão de arcebispos carismáticos e de forte personalidade como dom Eugênio Sales, no Rio, e dom Hélder Câmara, no Recife, causaram traumas na Igreja brasileira que permanecem até os dias atuais.
Situação bem diferente da que ocorreu em Belém, quando Orani substituiu dom Vicente Joaquim Zico, e teve como primeiro gesto convidá-lo para morar na mesma residência. Depois disso, passou a ter em dom Zico como seu principal conselheiro em Belém. Na carta enviada a dom Eusébio, o novo arcebispo do Rio ressaltou que seria uma honra a sua permanência na residência episcopal. O cardeal Eusébio preferiu deixar o Rio. Ao mesmo tempo, Orani fez questão de telefonar para dom Eugênio, com quem já tinha um bom diálogo. Dom Eugênio Sales faleceu em 2012.
Em 2009, a Santa Sé não quis arriscar numa escolha duvidosa para a arquidiocese do Rio de Janeiro, principalmente pela sua importância. Segundo bispos que estiveram no Vaticano naquele período, havia grande desconforto com a crise estabelecida entre os grupos de dom Eusébio e de dom Eugênio. Como arcebispo de transição, já que foi nomeado para o Rio com idade avançada, a expectativa é que dom Eusébio ele fizesse uma passagem rápida e tranqüila. O que não ocorreu.
Mas com a escolha de dom Orani, o Vaticano quis retomar a tradição na arquidiocese do Rio de Janeiro de longas administrações como a de dom Eugenio e a dom Jaime Câmara que completaram três décadas no cargo.
Emocionado em entrevista concedida ainda em Belém, em 2009, o arcebispo revelou que recebeu o comunicado de Roma de que iria assumir a sede do Rio de Janeiro dias antes do anúncio oficial. “A explicação porque eu fui nomeado eu não tenho. Eu disse sim ao chamado, mas peço a Deus que me capacite. É um misto de dor ao deixar e esperança ao chegar. Quando cheguei em Belém, me perguntaram o que vim fazer aqui. Eu respondi: conhecer as pessoas e depois seguir em caminhada. A mesma coisa vou fazer lá. O Rio de Janeiro é uma arquidiocese única, que vou conhecer, vou conviver com os padres, religiosos e depois ver como posso servir. Levarei a Amazônia comigo”, disse dom Orani.
Na CNBB, poucos prelados possuem tanto poder de articulação como dom Orani Tempesta. Ele conseguiu um feito inédito em 2007: a Campanha da Fraternidade foi lançada pela primeira vez fora de Brasíla. Com o tema sobre a Amazônia, ela foi lançada em Belém. Ele também teve grande influência na escolha da Campanha da Fraternidade de 2009, sobre segurança pública, um indicativo de um dos desafios que ele iria enfrentar no Rio de Janeiro.
Na carta que enviou a dom Eusébio, ele lembrou a importância desse tema da segurança pública para o Rio de Janeiro. Outra preocupação de sua passagem pelo Rio ficou evidente nos primeiros meses de sua administração: o combate à evasão de fiéis para as seitas evangélicas. Com grande experiência na utilização de meios de comunicação para a divulgação da fé católica, esse também foi uma aposta de da Santa Sé na nova administração da arquidiocese do Rio.
Dom Orani também passou a subir os morros da cidade para conquistar fiéis. Em algumas favelas que tinham sido tomadas pelo tráfico, dom Orani apoiou a ação de padres e religiosos que corriam risco. O rápido reconhecimento do trabalho do arcebispo viria anos depois, quando Bento XVI escolheu o Rio de Janeiro como a sede da Jornada Mundial da Juventude, de 2013. Com a renúncia de Bento, dom Orani foi anfitrião do Papa Francisco, de quem se aproximou.  A viagem ao Rio de Janeiro, em julho passado, foi o primeiro evento internacional do Papa Bergoglio. O mundo estava de olho em cada gesto de Francisco. E foi no Brasil que ele sinalizou as primeiras diretrizes do seu pontificado.
Esse perfil atualizado para o Blog foi escrito originalmente para o livro “Segredos do Conclave”, publicado em 2013, pela Geração Editorial.
Publicado às 13h13

Dom Orani tem perfil conciliador e afinidade com o Papa


dom, 12/01/14
por Gerson Camarotti |

O caráter conciliador é o principal traço do perfil de dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, cuja nomeação para cardeal foi anunciada neste domingo pelo Papa Francisco, com quem tem estreita relação.
Antes mesmo da eleição do Papa Francisco, dom Orani já demonstrava ter um estilo semelhante ao do pontífice, na época em que Jorge Mario Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires: o de sair do palácio episcopal para ir às ruas. No Rio de Janeiro, Dom Orani sempre visitou morros e comunidades pobres, mesmo quando havia ameaças do narcotráfico.
Na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado, no Rio, chamou muito a atenção a sintonia entre o Papa e dom Orani, anfitrião do evento. Isso fortaleceu ainda mais a relação pessoal entre eles.
Dom Orani também empresta um caráter nacional à condição de cardeal brasileiro – antes de ser arcebispo do Rio de Janeiro, foi bispo em São José do Preto (SP) e arcebispo em Belém. É um dos bispos que mais trata da questão amazônica. Foi dele a iniciativa de propor a Amazônia como tema da Campanha da Fraternidade, em 2007, única vez em que o lançamento do evento ocorreu fora de Brasília (em Belém).
Além disso, é um homem de comunicação – administrou a TV Nazaré e foi presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB –, qualidade considerada fundamental no momento em que a Igreja Católica se empenha em recuperar fieis.
Publicado às 11h13
Veja comentário no Jornal da GloboNews:
 

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