domingo, 8 de novembro de 2015

"Roubar é um crime", diz Papa sobre novo vazamento de documentos do Vaticano

Por Ansa |
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Informações revelam gastos exorbitantes de membros da Igreja Católica e resistência às reformas propostas pelo pontífice

Pela primeira vez, o papa Francisco fez uma menção explícita neste domingo (8) aos últimos escândalos envolvendo o Vaticano e afirmou que "roubar documentos é um ato deplorável".
"Roubar é um crime. Divulgar aqueles documentos foi um erro. É um ato deplorável que não contribuiu em nada", disse o líder da Igreja Católica durante a tradicional celebração do Ângelus, na Praça São Pedro. "Sei que muitos de vocês ficaram perturbados com as notícias dos últimos dias de que documentos reservados da Santa Sé foram pegos e publicados. Este triste fato certamente não me afasta do trabalho de reforma que estamos levando adiante com meus colaboradores, com o apoio de todos vocês e de toda a Igreja.", argumentou Francisco.
Osservatore Romano
"Divulgar aqueles documentos foi um erro. É um ato deplorável", afirmou o pontífice
Na última quinta-feira (5), chegaram às bancas dois livros que citam documentos secretos do Vaticano. Um deles, "Avarizia" (Avareza), do jornalista Emiliano Fitipaldi, retrata o império financeiro da Santa Sé e denuncia o gasto de milhares de euros com voos de classe executiva, roupas sob medida e móveis finos utilizados por membros da Igreja.
A outra obra, "Via Crucis", do também jornalista Gianluigi Nuzzi, conta como Francisco tem encontrado resistência para colocar em prática suas reformas por transparência e gestão de gastos no Vaticano. Eleito em março de 2013, após a renúncia histórica de Bento XVI, Francisco criou várias comissões para promover reformas na cúria, algumas delas contra a corrupção e má gestão de instituições financeiras.
Mas esta não é a primeira que o Vaticano é assolado por um escândalo de vazamento de documentos. Em 2012, cartas sigilosas sobre divergências entre Bento XVI e seu então secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, levaram à prisão do mordomo Paolo Gabriele e contribuíram para o Papa renunciar.
O caso ficou conhecido como "Vatileaks" e foi Nuzzi quem publicou os documentos, no livro "As Cartas Secretas de Bento XVI". Agora, o novo vazamento tem sido chamado de "Vatileaks 2" e o suspeito principal é Mario Benotti, funcionário do Palácio Chigi, mas também jornalista com fontes próprias no Vaticano. "Com estupor e profunda amargura, li algumas notícias nos jornais que me relacionam ao 'Vatileaks'. Queria, primeiramente, destacar minha total alieanação e, depois, dizer que não fui notificado de nada e nem estou sendo investigado", disse Benotti, defendendo-se.
Detentas fazem flash mob para o papa em presídio na Itália; assista
Duas pessoas, Lucio Vallejo Balda e Francesca Immacolata Chaouqui, também estão sendo investigadas pelo Vaticano e chegaram a ser detidas na semana passada. Os dois eram membros da Comissão de Estudo sobre Atividades Econômicas e Administrativas, órgão criado pelo Papa para analisar a situação patrimonial da Santa Sé em vista de reformas financeiras. A suspeita é de que a dupla tenha divulgado documentos sigilosos.
Além disso, o computador do revisor de contas da Santa Sé, Libero Milone, fora violado em outubro. Benotti é amigo de Chaouqui, já trabalhou na Radio Vaticano e na Rai World. Presta trabalhos para o Palácio Chigi, para a Prefeitura de Florença e para a Universidade Sapienza, em Roma. No Vaticano, ele é colaborador do jornal "Osservatore Romano", é Cavaleiro do Santo Sepulcro de Jerusalém e consultor do Pontifício Conselho para as Obras Sanitárias.
Com a Prefeitura de Florença, Benotti era conselheiro do prefeito Dario Nardella para assuntos religiosos e ajudava a organizar a visita do Papa à cidade, no próximo dia 10. Devido às especulações, ele resolveu se afastar dos cargos.
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sábado, 7 de novembro de 2015


Papa diz que não é possível falar de pobreza e levar vida de faraó

Declaração foi após revelações sobre o esbanjamento de alguns cardeais.
Francisco deu entrevista a jornal holandês.

France Presse

Da France Presse
O Papa Francisco durante a missa matinal no Vaticano nesta sexta-feira (6) (Foto: L'Osservatore Romano/AP) 
O Papa Francisco durante a missa matinal no Vaticano
nesta sexta-feira (6) (Foto: L'Osservatore Romano/AP)

O Papa Francisco advertiu em uma entrevista publicada nesta sexta-feira (6) que não se pode falar de pobreza e depois levar "uma vida de faraó", após as revelações sobre o esbanjamento de alguns cardeais no escândalo conhecido como o Vatileaks 2.
"A Igreja deve falar com a verdade e também com o testemunho, o testemunho da pobreza. Não é possível que um fiel fale de pobreza e dos sem teto e leve uma vida de faraó", disse o pontífice ao jornal holandês "Straatnieuws", de Utrecht.
"Na Igreja há alguns que, ao invés de servir, de pensar nos demais (...) se servem da Igreja. São os arrivistas, os que estão apegados ao dinheiro. Quantos padres e bispos deste tipo já vimos? É triste dizer, não?", disse na homilia durante a missa matinal no Vaticano.
Dois livros publicados na quinta-feira (5) em várias línguas revelaram, graças a documentos confidenciais, a gestão calamitosa das finanças vaticanas e o esbanjamento de alguns religiosos, instalados em apartamentos luxuosos.
O papa prometeu recentemente a um de seus auxiliares, citado na edição desta sexta-feira do jornal italiano La Stampa, que a gestão do patrimônio imobiliário da Igreja "vai mudar".
No entanto, advertiu Francisco ao jornal Straatnieuws, a Igreja não poderá abrir mão da maior parte de seu rico patrimônio imobiliário, que serve para apoiar as obras de caridade, nem de seus tesouros artísticos, que pertencem à "humanidade".
"Se amanhã eu dissesse que iríamos leiloar a Pietà de Michelangelo, não seria possível. Porque não pertence à Igreja. Está em uma igreja, mas pertence à humanidade. E isto vale para todos os tesouros da Igreja", explicou.
"Começamos a vender os presentes e outras coisas que me dão", recordou o papa, que acaba de entregar quase 40 destes presentes por ocasião de um evento de caridade. Entre as peças estão um carro Lancia, e um Rolex.
Em um tom mais mais leve, Francisco contou ao Straatnieuws que quando tinha quatro anos queria ser açougueiro e que não era muito bom no futebol com seus amigos em Buenos Aires.
"Eu era pequeno, tinha quatro anos e uma vez me perguntaram 'o que você gostaria de ser quando crescer?'. Eu disse: 'açougueiro!', como o do mercado em que eu fazia compras com a minha mãe e avó", contou.
No futebol, revela, "os que jogavam como eu eram chamados de 'patadura', que significa ter dois pés esquerdos. Mas eu jogava e geralmente era goleiro".
A última semana representou um desafio para o pontificado de Francisco, que teve questionado se teria um pulso firme necessário para enfrentar a corrupção interna da Santa Sé e promover reformas na Igreja católica.
O predecessor de Francisco, Bento XVI, renunciou em fevereiro de 2013, desanimado, segundo vaticanistas, pela amplitude das reformas que eram necessárias ser feitas na Cúria.