Análise: Beatificação reflete aclamação de católicos
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma beatificação equivale a uma sentença declaratória da Justiça comum.
Assim como não é o juiz quem, por exemplo, torna um homem pai de alguém, mas apenas declara esse fato para ser reconhecido oficialmente, não é a igreja que faz de alguém um santo.
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Beatificar ou canonizar alguém é apenas a afirmação pela igreja de que tem certeza de que determinada pessoa está no Céu junto de Deus. A igreja afirma que há muito mais gente no Céu do que aqueles que ela sabe e afirma ser santos. Como toda afirmação, pois, uma canonização, cujo primeiro passo é a beatificação, diz tanto sobre quem é canonizado quanto sobre quem canoniza.
João Paulo 2º, por exemplo, recordista de canonizações, perseguia um projeto de levar aos altares pessoas com vidas mais próximas dos católicos contemporâneos.
Esforçou-se por canonizar vítimas dos sangrentos conflitos do século 20, como os cristeros do México, religiosos e simples fiéis mortos pelos comunistas na Guerra Civil Espanhola, e gente como são Maximiliano Kolbe, padre assassinado no campo de extermínio de Auschwitz.
Frequentemente essas canonizações foram afirmações tão próximas ao mundo contemporâneo que geraram polêmica. A canonização de Gianna Beretta Molla, por exemplo, pediatra italiana morta em 1962 por se recusar a abortar sua quarta criança, o que, diziam os médicos, salvaria sua vida. Feministas, até dentro da igreja, acusaram o papa de fazer proselitismo na campanha da igreja contra o aborto.
Bento 16, em sua cruzada contra o relativismo cultural do mundo contemporâneo, tem insistido na ideia de reevangelizar. Algumas de suas canonizações refletem essa preocupação e foram acusadas de serem politicamente incorretas, como a canonização da primeira santa nativa norte-americana, Katheri Tekathwita.
Odetinha não deve criar polêmica. Ela já é aclamada como santa pelos católicos que fazem peregrinação a seu túmulo. Após anos tensos em que funcionava como o único baluarte na resistência à Teologia da Libertação, a Arquidiocese do Rio de Janeiro parece querer, acima de tudo, evitar polêmica e dizer que ser católico é algo tranquilo, sem muito drama nem tragédia. Algo a que a classe média pode aderir com facilidade. Um catolicismo de padres-cantores, digamos.
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